Transtorno alimentar: como lidar com o distúrbio e quais as causas

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Fabio Henrique Almeida - CRM: 155443 Médico Nutrólogo
Fatores genéticos, biológicos, psicológicos e até ambientais podem desencadear o problema, que se configura por um círculo  vicioso no qual a pessoa oscila entre os sentimentos de vergonha e culpa. O tratamento envolve uma abordagem multidisciplinar e inclui terapia, aconselhamento nutricional e medicamentos que ajudam a lidar com gatilhos emocionais geradores do distúrbio.

A compulsão alimentar é um transtorno complexo que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, 4,6% dos brasileiros apresentam compulsão alimentar,  quase o dobro da população mundial (2,6%). No Brasil, assim como em muitos outros países, é um problema crescente, especialmente entre os jovens e adultos. As pressões sociais, como os padrões de beleza inatingíveis e o acesso fácil a diversos alimentos altamente processados e caloricamente densos contribuem para o desenvolvimento desse distúrbio alimentar. No entanto, é importante ressaltar que as estimativas precisas da prevalência da doença podem variar devido a diferenças nos critérios de diagnóstico utilizados nos estudos, bem como à  subnotificação e ao  estigma associado a transtornos alimentares, o que pode levar à subestimação dos números reais.

O transtorno de compulsão alimentar é caracterizado por episódios recorrentes de ingestão excessiva de alimentos, muitas vezes acompanhados por uma sensação de perda de controle. Similarmente aos transtornos impulsivos, nos quais uma pessoa não consegue se impedir de começar a fazer algo, as compulsões são marcadas pela dificuldade de parar. No entanto, na prática, os transtornos compulsivos são compostos por ambos os sentimentos.

Quem sofre de compulsão alimentar encontra-se preso em um círculo vicioso de comer demais, seguido por sentimentos de vergonha e culpa. Todos esses sentimentos negativos acentuam a própria compulsão, alimentando uma espiral descendente de
comportamento. Essa característica, comum nos transtornos mentais, torna a compulsão um desafio praticamente impossível de ser superado pelo indivíduo sem ajuda.

As causas do problema são multifatoriais e podem incluir fatores genéticos, biológicos, psicológicos e até os ambientais. Traumas emocionais, estresse, pressão social e uma relação disfuncional com a comida e o corpo também desempenham um papel significativo. É importante destacar que não é simplesmente uma questão de falta de força de vontade. É um distúrbio de saúde mental sério que requer muita compreensão, empatia e tratamento.

O tratamento, aliás, envolve uma abordagem multidisciplinar, que pode incluir terapia cognitivocomportamental, além de aconselhamento nutricional e até medicamentos. A recuperação da compulsão alimentar é um processo desafiador, mas possível. Com apoio adequado, autoconhecimento e ferramentas para lidar com gatilhos emocionais, muitas pessoas conseguem superar esse transtorno e reconstruir uma relação saudável com a comida e consigo mesmas.

A conscientização e a educação sobre a compulsão alimentar são fundamentais para reduzir o estigma associado a esse transtorno e garantir que aqueles que sofrem se sintam compreendidos e apoiados em sua jornada de recuperação. O julgamento e a pressão social certamente são fatores que pioram a ansiedade e o comportamento do paciente.

Portanto, é importante que a sociedade saiba como lidar com quem possui o problema. Ao mesmo tempo, a educação ajuda os indivíduos a saberem quando devem buscar ajuda, pois o caminho para a recuperação começa com o reconhecimento do problema.

* Fabio Henrique Almeida é médico pós-graduado em Medicina do Exercício e Esporte pela Universidade Federal de São Paulo e em Nutrologia pela ABRAN.

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